Muita gente acha que criatividade é um dom — desses que aparece de repente, como um sopro. Eu acredito que esse dom divino seja responsável por uma minoria das pessoas criativas. O que nem todo mundo sabe é que criatividade é também — e sobretudo — disciplina. É treino. É constância.
Escrevo uma newsletter semanal desde julho de 2024. Toda semana. Chova, faça sol, tenha viagem, cansaço ou ideias escassas. Toda semana, entrego um texto que carrega minha escuta, meu olhar, meu repertório. E, por mais que você pense o contrário, há semanas em que as ideias simplesmente não vêm.
Hoje, por exemplo, esta newsletter nasceu da falta de ideia. E tudo bem. Porque a falta de inspiração também é uma inspiração.
Criar é compromisso. E rotina.
Nas últimas semanas, recebi muitos elogios pelas newsletters. A do Dia das Mulheres emocionou muita gente; a de Tempo Rei, inspirada no show de Gilberto Gil, tocou leitores que nunca tinham se sentido tão próximos do tema da finitude. E é natural que isso aconteça — quando algo nos atravessa profundamente, a criação ganha outra densidade.
Mas é importante lembrar que nem toda semana há um show de Gil, nem sempre a pauta chega fácil. E ainda assim, escrevo.
Porque criar é compromisso. É rotina. É presença, mesmo nos dias em que a inspiração não aparece.
Profissionais criativos sabem: a ideia não vem pronta. Ela se constrói no cotidiano, no consumo intencional de referências, no olhar curioso para o mundo, na escuta atenta das conversas mais simples. É como exercitar um músculo: quanto mais você pratica, mais apto se torna.
E as criações também amadurecem com o tempo. Ficam mais consistentes. Mais fluidas. Mais suas.
Quando falo sobre criação de conteúdo, muita gente me diz:
"Fernanda, eu me sinto travado. Não sei o que postar. Falta criatividade."
E minha resposta é sempre a mesma: criar exige ritmo. Exige repetir. Exige mostrar-se mesmo quando não está tudo perfeito. Porque a criação se alimenta da exposição — não da idealização.
Quando você se compromete com a constância, o seu cérebro começa a funcionar diferente. Aprende a buscar conexões. A transformar vivências em linguagem. A fazer sentido do que parecia solto.
Aquele “dom” que parecia inalcançável vira prática. Técnica. Presença.
Isso vale para uma aula, um e-mail ou um post nas redes sociais. Então, se você quer aparecer nas redes sociais, não comece esperando o post perfeito. Comece. E se comprometa. A inspiração virá — porque você já estará em movimento.
Roube como um artista
Há alguns anos, li um livro que mudou completamente minha relação com a criatividade: Roube como um artista, de Austin Kleon. Ele parte de uma premissa libertadora — nada é totalmente original. Tudo pode ser fonte de inspiração, desde que com intenção, respeito e ética.
Criar não é copiar. Criar é transformar. É reconhecer que nossa voz se constrói a partir das vozes que ouvimos, das imagens que nos marcam, das experiências que nos atravessam.
No meu caso, isso se traduz em um hábito constante: eu consumo conteúdo com escuta ativa e intencionalidade. Podcasts, TED Talks, filmes, séries, aulas, livros, mensagens de pacientes, comentários em posts… tudo pode acender uma faísca. Mas não paro na faísca. Transformo. Elaboro. Cruzo com a prática. Com o que ensino. Com o que vivo.
Esse processo não é aleatório. Com o tempo, criei um repertório que me permite enxergar pontes onde, à primeira vista, só havia ilhas. Anoto minhas ideias (sim, nós esquecemos mesmo as ideias mais brilhantes!) e, na hora de criar, consulto meu banco íntimo de ideias.
E mais: reaproveito o que crio. Um tema tratado na newsletter vira uma postagem no Instagram. Uma aula que preparei para um curso pode inspirar uma live. Uma conversa com um paciente pode virar o fio condutor de um vídeo. Não há desperdício — há reciclagem criativa.
Isso funciona para mim e pode funcionar para você.
Você não precisa inventar do zero. Precisa apenas estar atento ao que já te atravessa — e disposto a dar forma a isso.
É assim que sigo produzindo conteúdo relevante e criativo, de forma consistente, há 3 anos. Se você é da saúde e também quer se comunicar melhor nas redes, a primeira coisa a saber é: seu conteúdo não precisa ser “inédito”. Precisa ser seu.
dica da especialista 🤌🏻
Você já tem o e-pali ou costuma ler minhas pílulas paliativas? Então já sabe que essa é uma seção especial: aqui compartilho insights a partir da minha visão e experiência profissional.
💡 Se você sente que não tem boas ideias, talvez não falte criatividade — talvez falte repertório. E repertório se constrói com leitura, escuta, curiosidade e prática - de forma intencional. A constância é mais poderosa do que a genialidade ocasional. Quem aparece com regularidade é lembrado, confiado, reconhecido. Seja esse alguém. Sua escuta clínica, sua experiência, sua vivência no cuidado já são matéria-prima. O que falta é transformar isso em conteúdo. E isso se aprende.
garimpo da cecy 💎
A Cecy é uma avatar paliativa inspirada em Cicely Saunders. Ela está nos e-palis, fala com você no direct do Instagram e aqui traz toda semana avisos e indicações para você ir além.
🎥 O Workshop Paliativo: O Profissional de Saúde nas Redes Sociais é amanhã (e fica gravado por 30 dias)! Um encontro direto e prático para você entender como se posicionar com propósito, criar conteúdo com constância e construir uma presença relevante nas redes. Ainda dá tempo de se inscrever!
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📚 Livro recomendado: Roube como um artista, de Austin Kleon – uma leitura rápida, leve e essencial para quem quer se libertar da ideia de criatividade como dom divino.
Espero te encontrar amanhã à noite,
Fernanda