Aprendi com os Cuidados Paliativos que escutar é mais importante do que saber o que dizer. A escuta não é um ato passivo — é um movimento ativo de atenção, de presença, de entrega. Sem ela, erramos na dose, no tempo, no tom.
Esse princípio me acompanha também fora da clínica, em exercício contínuo. Na vida pessoal e como educadora e comunicadora. Como autora desta newsletter. Por isso, hoje, eu escrevo não para ensinar — mas para escutar.
A Incrível Newsletter Paliativa completará um ano em breve. Já são mais de 2700 pessoas lendo, e eu sigo aqui, sozinha diante do teclado, tentando imaginar quem é você do outro lado da tela. Tento adivinhar o que te toca, o que te forma, o que te transforma. Mas a verdade é que... eu quero escutar de você.
a escuta que estrutura o cuidado
Na prática clínica, a escuta ativa é mais poderosa do que qualquer intervenção. Quando escutamos sem julgar, sem pressa, sem antecipar, muitas vezes a própria pessoa encontra o que precisa. Ela escuta a si mesma quando abrimos este espaço sagrado.
Na faculdade, aprendemos a fazer perguntas — mas quase sempre em formatos fechados, que delimitam o campo da resposta: “Bom dia, tudo bem com você?”, “Está com dor hoje?”. Essa forma de abordar pode ser rápida, mas raramente é suficiente para compreender, de fato, o sofrimento do outro. Para acessar o que não está dito, é preciso mais do que técnica: é preciso silêncio. Um silêncio intencional, que cria espaço para que a pessoa encontre suas próprias palavras, no seu tempo, no seu ritmo.
Sempre tive mais facilidade para falar do que para escutar. Por isso, precisei estudar — e praticar — comunicação em suas múltiplas camadas. Ainda estudo e pratico. Aprendi que tudo começa na escuta: da venda ao alívio do sofrimento. É por isso que, hoje, insisto com meus alunos: escutar é uma ferramenta clínica. Não se trata apenas de uma postura humanizada, mas de uma habilidade técnica — e das mais exigentes.
Hoje estou aqui, diante do computador, refletindo sobre isso. Escrever para mais de dois mil e setecentos leitores é motivo de alegria, mas também de responsabilidade. Assim como no cuidado paliativo, comunicar sem escutar é um risco. Não quero apenas falar. Quero seguir fazendo sentido. E, para isso, preciso te ouvir.
a escuta que sustenta este projeto
Na semana passada, te enviei uma breve pesquisa. Queria saber mais sobre você: quem é, o que espera, com que frequência prefere receber a newsletter. Era uma tentativa de escuta genuína.
Tivemos mais de 790 aberturas — e apenas 4 respostas. Isso também é um dado. A escuta só acontece se houver disposição dos dois lados. Talvez o canal, o formato ou o momento não tenham sido ideais. Talvez o pedido precise ser reformulado. Ou talvez... esteja tudo bem assim.
O que posso dizer é que continuo disposta. Esta newsletter existe porque acredito na potência do conteúdo educativo, gratuito e de qualidade. Mas também acredito em pausas, em ciclos, em escuta.
Por isso, te pergunto com sinceridade:
Você prefere receber esta newsletter toda semana ou a cada 15 dias?
O que mais gostaria de ver por aqui?
Sua resposta pode — e vai — moldar os próximos passos desse projeto. Clique no botão abaixo e me ajude a escutar a sua voz. 👇🏻
dica da especialista 🤌🏻
Você já tem o e-pali ou costuma ler minhas pílulas paliativas? Então já sabe que essa é uma seção especial: aqui compartilho insights a partir da minha visão e experiência profissional.
💡 Escutar é um ato de humildade. É abrir mão do controle e aceitar que a resposta pode vir do outro. Para quem lidera equipes, cuida de pacientes ou se comunica com o público, a escuta ativa é um diferencial — mas também um desafio. Não basta perguntar: é preciso criar espaço para que a resposta venha. Escutar é um ato ativo.
garimpo da cecy 💎
A Cecy é uma avatar paliativa inspirada em Cicely Saunders. Ela está nos e-palis, fala com você no direct do Instagram e aqui traz toda semana avisos e indicações para você ir além.
📝 Se ainda não o fez, responda à nossa pesquisa: ainda está no ar! São poucos minutos e me ajuda imensamente.
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🎧 Na breve e poderosa palestra "5 maneiras de escutar melhor", o especialista em som Julian Treasure nos lembra de algo fundamental: estamos perdendo a habilidade de escutar. Em apenas 7 minutos, ele apresenta cinco estratégias simples para reconectar nossos ouvidos — e nossa atenção — às pessoas e ao mundo ao redor.
👉 Assista aqui: Julian Treasure: 5 maneiras de escutar melhor (TED)
Até breve,
Fernanda